sexta-feira, 5 de junho de 2020

O BLUES DE NOVA BABEL: A DANÇA DESSA NOITE (ATO 1)



Escrito por
MIKE WEVANNE

1.

O quarto escuro abrigava dois vultos debruçados um sobre um outro. A madeira da cama rangia, mas suportava toda aquela tensão acumulada entre as duas pessoas. Depois que ambos passaram por maus bocados no dia anterior, encontraram um ao outro feito um náufrago encontra um bote salva vidas.

Já haviam perdido a noção do tempo que havia passado. Seus corpos suados enfrentando um calor intenso demais para o ventilador que soprava incerto de estar cumprindo seu dever. Jack usou os dentes para prender um murmúrio e em vez disso o que escapou foi um som gutural. O abdome de Susane estremeceu, ela o prendeu entre as pernas e o envolveu com os braços. Seus dedos cravaram nas costas de Jack, os dentes dele cravaram no pescoço dela, e a dor de ambos se embaralhou com o prazer.

Ele a abraçou forte também. Dois corpos se misturando, uma massa de carne espiralada onde o casal confundia tanto a pele suada quanto a palpitação do coração um do outro. Os lábios não descansavam, mesmo quando ocasionalmente buscavam ar. Susane e Jack se afogavam um no outro.

E gozaram.
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Jack acordou ainda enrolado no corpo de Susane. Na penumbra do quarto ele escorregou para fora da cama e tateou o chão até encontrar a camisinha que tinha jogado fora. Usada e amarrada num nó. Depois achou o controle da TV e ligou num canal qualquer para conseguir alguma iluminação. No meio do caminho até o banheiro apanhou a cueca e o maço de cigarros.

Quando voltou para o quarto, que também era sala e cozinha do quitinete em que morava, sentou na única poltrona que tinha, puxou a garrafa de cachaça que estava próxima. Divagou sobre a noite agourenta que havia tido antes de encontrar Susane. Virou uma dose da pinga e reparou que a TV exibia um filme erótico. Jack não sabia que ainda passavam aqueles filmes nas madrugadas entre os sábados e os domingos. Algo reacendeu dentro dele. Sentiu a pressão aumentar dentro da cueca. Apagou o cigarro, tomou outro gole de cachaça e voltou para a cama.
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Susane não estava dormindo. Aquele calor desgraçado a mantinha acordada e ela estava pensando sobre os problemas do dia anterior. No escuro sentiu um movimento ao lado dela e o corpo de Jack escapuliu do abraço em que os dois estavam embolados. Pouco depois a TV foi ligada e ajudou na iluminação. Susane o viu vestindo a cueca e indo até o banheiro.

Aquela não era a noite mais confortável que tinha tido, mas a companhia estava valendo o aperreio. Principalmente pela fuga que representava. Os dois não poderiam ter se encontrado numa noite mais propícia: buscavam um pouco de loucura para esquecer do bom senso que os obrigava a lidar com os problemas que estavam enfrentando. Terminaram encontrando um ou outro. Então veio o jogo em que se envolveram: de olhares, de palavras, de sorrisos, de intenção… Cujo desfecho os levou até aquele quarto calorento.

Desconfortável, mas a companhia valia.

Quando Susane reparou no que estava passando na TV, viu um homem e uma mulher transando próximo a uma grande fornalha de fábrica. Os dois estavam suados como ela mesma estava. Excitados como ela mesma estava.

Um calafrio correu pela sua pele quando sentiu o corpo de Jack se encaixar no seu. O abraço dele não era a única coisa que estava firme. Então se perderam novamente na loucura um do outro.

Porque a manhã os esperava com todos os problemas. Mas aquela noite pertencia somente a eles.


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Saudações joviais!

Nessa nova história vamos explorar um novo mundo e uma nova temática... Numa pincelada noir, vamos explorar alguns personagens na cidade de Nova Babel. Espero que essa espiada faça valer a viagem!

Sem mais, quem chegar até aqui, peço que deixe um comentário com sua experiência de leitura: impressões, sugestões e críticas. Agradeço muito a força para que eu siga escrevendo e melhorando o conteúdo no blog! E se o texto merecer, compartilhe com os amigos nas redes sociais!

Próxima sexta-feira veremos o segundo ato de "A dança dessa noite"!

Bons ventos.

MWXS
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