sexta-feira, 27 de dezembro de 2019

Caronte: Sessão Pipoca dos Mortos (Ato 2)

Escrito por
MIKE WEVANNE

Dedicado a
PBG e AAV

Obs: leia o primeiro capítulo dessa história clicando aqui!

2

Pelas janelas do apartamento descobriram que boa parte da cidade estava coberta por um apagão. Ao menos viam que a falta de eletricidade alcançava o horizonte. Prisco foi buscar algumas velas enquanto Andréa e Michelle usavam a iluminação dos celulares para enxergar no escuro. A gritaria no apartamento debaixo piorava, mas o barulho caótico não permitia que discernissem qual era o motivo da briga.

— Gente, que inferno é esse que tá acontecendo lá em baixo? — Michelle começou a andar em direção à porta.

— Aonde tu pensa que vai, mana? — Andréa era quem estava mais abalada. As sirenes e o som de fogos (que ela desconfiava que eram tiros) em pontos distantes do bairro a perturbavam. A deixavam inquieta.

— Só vou dar uma espiada no corredor, relaxa.

Quando ela pôs a mão na maçaneta uma luz jogada no seu rosto ofuscou sua visão.

— Aonde tu pensa que vai, mana? — Dessa vez foi Prisco quem lhe inquiriu. Estava com uma lanterna. Ele adorava encontrar ocasiões para usar o equipamento de camping que tinha comprado há uns anos. Mas Prisco acampava pouco.

— Meu deus! Vou só dar uma espiada no corredor! Relaxem vocês dois!

Michelle viu que o corredor não estava tão escuro quanto esperava. Haviam outras pessoas nas portas dos outros apartamentos. Apontavam a lanterna dos celulares umas para as outras e conversavam sobre o escarcéu no andar debaixo. Não ouviam mais discussão, apenas o som de coisas sendo quebradas. E gritos.

— Alguém ligou pra polícia?

Os vizinhos confirmaram. Estavam apreensivos.

De repente um estouro alto e seco. Depois mais dois. Desta vez definitivamente não eram fogos de artifício! Todos gritaram de susto e começaram a entrar desesperados em seus apartamentos.

— Que porra foi essa, Michelle? Saí daí! — Prisco a puxou bruscamente e bateu a porta. Girou a chave. Duas vezes.

Do andar debaixo ouviu-se mais gritos e então silêncio. No corredor do lado de fora algumas portas ainda estavam batendo e sendo trancadas.

Prisco sussurrava. — Vocês que tão com o celular na mão, liguem pra polícia, caralho! — Estavam com medo de fazer barulho demais e serem ouvidos. Serem ouvidos por alguém armado e potencialmente perigoso. Perigoso e que se encontrava no prédio durante aquele maldito apagão!

Michelle ligou 190. “No momento, todas as nossas linhas estão ocupadas. Tente novamente em alguns minutos.”

Prisco a encarava. — E aí???

— Tô ligando! Calma!

Ouviram uma pancada forte vindo do corredor. Alguém estava batendo na porta de um apartamento vizinho. Os moradores de lá começaram a gritar. Do corredor alguém gritou de volta. Mas não era um grito normal de desespero ou raiva. Algum tipo de louco estava lá. Gritava como um animal. Rosnava como um animal. Pior, ainda deveria estar armado!

Michelle tentou novamente. “No momento, todas as nossas linhas estão ocupadas. Tente novamente em alguns minutos.”

— E aí??? — Prisco a cutucou e ela levou um susto.

— Tô ligando, caralho!

As pancadas e gritos tomaram o apartamento ao lado. Entre apelos de socorro dos vizinhos desesperados, o rosnado insano de um louco. Os nervos de Andréa estavam devastados. — Meu Deus, o que tá acontecendo?

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